terça-feira, 22 de março de 2011

O escândalo Bethânia/Rouanet

 É O ASSUNTO DA SEMANA, ALIÁS JÁ VIROU SEMANAS E É BOM QUE NÃO NOS ESQUEÇAMOS TÃO FÁCIL ASSIM , ATÉ PRA QUE AS COISAS SOB PRESSÃO POSSAM MUDAR .LEIA O QUE O REGIS TADEU ESCREVEU, ABAIXO, E SE TIVER AINDA CAPACIDADE, FIQUE INDIGNADO !!!!
(..) Ninguém mais tem ilusão                                               
No poder da autoridade
De tomar a decisão
E o poder da autoridade, se pode, não faz questão
(...)
Os lucros são muito grandes,
Grandes... ie, ie
E ninguém quer abrir mão, não

Mesmo uma pequena parte
Já seria a solução
Mas a usura dessa gente
Já virou um aleijão
GENTE ESTUPIDA....GENTE HIPOCRITA. (letra de Nos Barracos da Cidade de Gilberto "politico hipocrita"Gil)

O ego e a ganância de Maria Bethânia no país dos amigos

Regis tadeu (Yahoo)

Não se falou em outra coisa na semana passada: a aprovação por parte do Ministério da Cultura de um pedido de captação de recursos feito por Maria Bethânia para fazer 365 vídeos declamando poesias em um site a ser criado especificamente para isto. Nada disto seria motivo de alarde se não fosse a exorbitante cifra liberada: inacreditáveis R$ 1,3 milhão!!!
Primeiro, é preciso que você entenda que esta dinheirama toda não será doada pelo governo, e sim que a cantora recebeu autorização para ir atrás de empresas interessadas em financiar este projeto e deduzir a grana aplicada de seu próprio Imposto de Renda.
Sim, eu sei o que você está pensando… Eu pensei a mesma coisa, principalmente por saber que é possível hoje em dia, usando profissionais competentes e equipamentos relativamente baratos, fazer um videoclipe bacana R$ 6 mil e até mesmo gravar um disco inteiro com R$ 15 mil, mas sei que, embora com falhas e distorções gritantes, a Lei Rouanet ainda é nos dias de hoje a principal ferramenta para incentivar a cultura nacional, que possibilitou a viabilização de projetos bacanas que talvez jamais saíssem do papel. Mas a maior falha nesta história toda da Bethânia é a falta de bom senso.
É claro que não vou questionar aqui a relevância de um projeto deste tipo junto ao público, pois seria leviano de minha parte tentar adivinhar a receptividade que ele teria. Tenho certeza de que Bethânia é muito exigente e não iria fazer um troço qualquer “nas coxas”, o que explica a inclusão de um diretor de cinema talentoso na parada, que é o Andrucha Waddington, mas a questão é outra. O projeto de Bethânia em si é um absurdo por si só. Criar um blog só para abrigar 365 vídeos é um acinte total. Pergunte a quem tem um blog caprichado e veja se ele gastou 1% do valor aprovado.
Você que me acompanha nos vídeos do “Na Galeria do Regis” e “Na Mira do Regis” aqui no Yahoo! tem que saber que dá trabalho colocar estes materiais audiovisuais no ar para que você possa assisti-los confortavelmente no computador. Por isto e por experiência própria, sei que estes absurdos 365 vídeos serão gravados em uma etapa só, algo que deve demorar no máximo um mês de trabalho, já que não haverá nenhuma superprodução envolvida.
Pode apostar que cada vídeo não terá mais que dois minutos de duração, gravado em estúdio, com iluminação correta e tendo unicamente Bethânia como personagem. Incluindo nisto tudo o tempo de edição e a remuneração das poucas pessoas envolvidas – caso contrário, aí sim seria uma picaretagem explícita -, saber que tudo isto custaria R$ 1, 3 milhão é algo tão fantasioso que nem em um desenho do Shrek tal coisa aconteceria.
Vamos falar a verdade: tal projeto, feito por uma equipe profissional – em todos os sentidos – não gastaria sequer ¼ deste valor.
É preciso esclarecer que do montante pedido pela Bethânia, 10% – ou seja, R$ 130 mil – vai ficar com a empresa responsável pela captação destes recursos. A coisa já começa a feder aí, pois este montante de nada tem de incentivo cultural, já que vai direto para o caixa da empresa – se é que não existem “laranjas” nesta história…
Para piorar ainda mais a história, ao ler o texto do projeto a gente descobre que desta dinheirama toda, R$ 600 mil é o cachê a ser pago para a “diretora artística”, responsável pelas atividades de “direção artística, pesquisa e seleção de textos e atuação em vídeos”. Adivinhe quem é esta pessoa? A própria Maria Bethânia!!! Quer absurdo maior que este?
Dando uma pesquisada, vi que a grana que a Bethânia pediu originalmente era bem maior do que aquela aprovada pelo MinC . Ela simplesmente havia pedido R$ 1,8 milhão!!! E não é a primeira vez que Bethânia se mete neste tipo de confusão. Fiquei sabendo na semana passada que, três anos atrás, ela fez um pedido de captação dos mesmos R$ 1,8 milhão para fazer uma turnê. Mesmo rejeitado pela área técnica do Ministério, o então titular da pasta, o Sr. Juca Ferreira, simplesmente ignorou o parecer e autorizou a captação de R$ 1,5 milhão. Na época, estranhamente, ninguém falou nada na imprensa…
Outra coisa interessante: você sabia que a empresa do diretor Andrucha Waddington é a Conspiração Filmes, em que um dos sócios, Lula Buarque, é justamente o sobrinho da atual ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Coincidência, né? Sei…
Reconheço que ela foi uma das primeiras cantoras a trazer a leitura de textos e poesias para dentro dos shows, e isto em plenos anos 60. Também sei que quase todas as grandes empresas se beneficiam de renúncia fiscal e que são auxiliadas pelo governo em seus “momentos difíceis”. Da mesma forma, sei das dificuldades de quem tem uma empresa, por menor que seja, para sobreviver em um País em que o governo “joga contra” o tempo todo com a cobrança de inúmeros impostos inúteis, que servem apenas para financiar campanhas políticas.
Desconhecer que a tal “renúncia fiscal” é sim dinheiro público já é um absurdo para quem acompanha a vida cultural deste País. Afinal de contas, parte da grana dos impostos das empresas não vai para o Estado e sim para projetos culturais, o que faz com que isto acabe virando “verba publicitária”, pois a marca da empresa estará muito visível no projeto.
Tenho lido argumentos em defesa de Bethânia que parecem ter sido elaborados pelo pessoal do fã-clube da cantora, tamanho é o grau de vassalagem baba-ovo. Até quando teremos este espírito de corporativismo e coleguismo “chapa branca” na música brasileira é ainda um dos mistérios que eu adoraria desvendar. Por outro lado, tenho lido bobagens de gente esclarecida, dizendo que estas verbas tinham que ser destinadas a artistas desconhecidos e independentes, tentando “trazer a brasa para a sua própria sardinha”. Tudo bobagem. Muito melhor seria se toda esta grana de “renúncia fiscal” fosse utilizada para melhorar o saneamento básico, a saúde e o atendimento médico das pessoas no Brasil.
Agora, pode apostar que existem centenas de projetos relevantes de gente não tão conhecida mofando no fundo das gavetas do Minc, iniciativas que visam levar música, poesia e artes em geral para comunidades carentes, este tipo de coisa.
E não é só a Bethânia que pode ser incluída neste rol de críticas. O sr. Arnaldo Jabor, que se arvora de ser uma espécie de “defensor da moralidade ética deste País”, deixou o seu papel momentaneamente de lado quando pediu – e conseguiu – R$ 12 milhões para fazer aquela bomba pretensiosa de filme que ele batizou como “A Suprema Felicidade”. Fernando Deluqui, guitarrista do redivivo RPM, pediu mais de R$ 207 mil para fazer um disco e um DVD, Erasmo Carlos e Nando Reis requisitaram mais de R$1 milhão cada um para fazer suas respectivas turnês, Maria Rita pediu mais de R$ 2 milhões para fazer o mesmo, Gilberto Gil captou 800 mil para fazer sua turnê logo depois de deixou de ser ministro da própria pasta da Cultura, Gal Costa conseguiu a aprovação para captar R$ 2,2 milhões para seu projeto Tom de Gal, com interpretações para canções de Tom Jobim em oito shows que depois serão editados para o lançamento de um DVD… Até picaretagens musicais como o Tchakabum requisitou, acredite, mais R$ 1,5 milhão para um tal “Projeto Tchakabum é Pura Energia”!!! Pô, onde é que isto vai parar?
E a coisa já começou a reverter para os lados da Bethânia. Fiquei sabendo que uma apresentação que ela faria em Vitória (ES) em outubro, dentro de um festival de teatro, foi cancelada porque o banco Banestes, que estava bancando o evento – ou seja, quem iria pagar o vultoso cachê da cantora – alegou que havia feito uma “readequação do planejamento dos investimentos culturais”, isto logo depois que este escândalo estourou. O engraçado é que só o espetáculo dela foi cancelado; as apresentações dos outros artistas – Marisa Orth, Marco Nanini e Betty Faria, entre outros – foram mantidas. Coincidência, né? Sei… O curioso é que o espetáculo que ela apresentaria, “Bethânia e as Palavras”, é justamente aquele que originou o projeto do blog “O Mundo Precisa de Poesia”, que acaba de ser aprovado pelo MinC.
Defender a atitude de Bethânia com o argumento de que ela é famosa e o escambau é de uma infantilidade atroz, como se isto fosse suficiente para justificar qualquer barbaridade que ela venha a propor ou cometer. O que Bethânia fez é ilegal? Pela atual lei brasileira, não, mas que isto esbarra firmemente em questionamentos a respeito de bom senso e ética, não tenho a menor dúvida.
Certa vez, Bethânia chegou a afirmar que os custos de seus espetáculos “são de ópera!”. Na verdade, tenho a impressão que tal projeto é muito mais exemplo de uma egolatria astronômica do que qualquer outra coisa.

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